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Paraguai prende 30 refugiados da América do Sul

Rosental Calmon
Paraguai prende 30 refugiados da América do Sul

(Jornal do Brasil, 25 de agosto de 1979)

Cerca de 30 argentinos, uruguaios e chilenos, incluindo pelo menos uma criança de dois anos e meio, foram presos nas últimas semanas nesta capital e em outras regiões do Paraguai, aparentemente em mais uma ação da famosa Operacão Condor, sistema de cooperação entre as polícias políticas do Cone Sul.

O Ministro do Interior responsável pela polícia, Sabino Montanaro, em entrevista ao Jornal do Brasil, desmentiu o desaparecimento das pessoas, mas confirmou que foram presos os três integrantes da família argentina Landi – pai, mãe e uma menina– garantindo que eles foram deportados para seu país, “por entrada ilegal do Paraguai”.

Igreja Preocupada

Paraguaios que trabalham na defesa dos direitos humanos, principalmente alguns setores da Igreja, estão seriamente preocupados com o que possa ocorrer a esses presos políticos, cuja existência é energicamente negada pelo governo de Stroessner, que acaba de receber, com todos os privilégios, o ex-ditador nicaraguense Anastasio Somoza

Victoria da Silva, mulher de um dos estrangeiros que estão nos cárceres da temida polícia política paraguaia, contou que viu ontem seu marido em péssimas condições físicas, com a boca ensanguentada por haver perdido alguns dentes, devido a supostos maus-tratos recebidos

Ela ia tentar ontem à tarde uma audiência com o Arcebispo de Assuncão, Dom Ismael Rolom, para implorar-lhe que interceda por seu marido, pois policiais já lhe adiantaram que ele deverá ser deportado. Desesperada, Victoria da Silva teme pela vida de seu companheiro, de nacionalidade uruguaia. Ele tem aproximadamente 50 anos e foi preso junto com o filho de cerca de 25 anos.

Segundo pôde ser apurado em Assunção, o grupo de uruguaios, argentinos e chilenos estaria todo nos cárceres da Sección de Vigilancia Y Delitos de Investigatión ( a polícia política paraguaia), localizada na rua Francisco Franco, no centro dessa capital. Defronte a esse velho prédio podiam ser vistos ontem dois Ford Falcon com a inscrição Polícia, sirenas, luzes vermelhas e radioelétrico da policia argentina.

A Polícia Paraguaia

Os dois automóveis tiveram suas placas retiradas, mas a polícia paraguaia não tem nenhum carro desse tipo e nem mesmo algum veiculo pintado de vermelho, como os dos órgãos de segurança do país vizinho. Isso comprova a suspeita que alguns setores paraguaios já tinham, de que policiais argentinos estariam participando diretamente de investigações e interrogatórios destes presos.

A família argentina Landi morava no bairro Loma Pyta. A prisão no dia 4 passado foi feita pessoalmente pelo senhor Pastor Coronel que há anos chefia a polícia política paraguaia. Segundo denúncias, os policiais usaram métodos bastante violentos, e a casa continua cercada.

Numa nota divulgada sexta-feira passada, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos do Paraguai informou que havia recebido “denúncias responsáveis sobre a detenção das seguintes pessoas, todas de nacionalidade argentina, nos primeiros dias do mês de agosto: sr Osvaldo Henrique Landi, sua mulher Olivia de Landi, acompanhados de uma criança de três anos, filha do casal. Igualmente o sr Ramon Silva e seu filho Juan Carlos Silva. Essas pessoas residem no Paraguai há alguns anos.

A nota denunciava ainda que as pessoas estavam no Departamento de Investigações e que as detencoes tinham sido justificadas com a alegação de que eram “Para investigações”. “Esta Comissão expressa sua preocupação pela sorte das pessoas mencionadas”.

Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, o Ministro do Interior garantiu que só existem três presos políticos no Paraguai e desafiou a quem prove o contrário. Perguntado sobre a família Landi, o mInistro declarou: “Estes nós deportamos para o Uruguai. Dizem que desapareceram, mas é porque nós deportamos quem não tem visto. Eles foram detidos e nós temos as fichas do porto por onde sairam. Ficam dizendo que foram desaparecidos. Desaparecidos seriam se nós os tivéssemos detido e depois não déssemos razões para isto; eles foram deportados para o Uruguai, Juan Carlos Silva, Linda e seus filhos”, afirmou o ministro.

Em seguida, o ministro leu um documento “Prisão da família argentina Henrique, Ofelia e Toto Landi (a criança) e do cidadão uruguaio Juan Carlos Silva”. E garantiu, mais uma vez: “Esses foram deportados. Temos o nome do porto por onde saíram”.

-Qual o nome do porto de saída?

-Este dado não tenho no momento, mas posso dar.

-Mas esses eram procurados pela polícia do Uruguai e da Argenitna?

-Não, não senhor. Eram apenas residentes sem visto e sem permissão do Departamento de Imigração para permanecer no país.

-Mas, existe uma colaboração mútua entre as polícias da Argentina e Uruguai, Paraguai e Brasil?

-Há colaboração mútua no sentido de transmitir informações, mas nunca no governo do presidente Stroessner e durante meus 11 anos à frente do Ministério do Interior e seis anos no Ministério da Justiça jamais participei da entrega de argentinos à Argentina, nem de uruguaios ao Uruguai. Nem o Uruguai entregou paraguaios a nós, nem a Argentina entregou paraguaios a nós. Se vem aqui um argentino, nós não o entregamos à Argentina se estiver sendo perseguido pela Argentina. Mas, se vem um residente sem visto, este nós expulsamos.

-E se o residente for procurado pela polícia de seu país?

-Se estiver sendo procurado pela polícia da Argentina, passamos para o Brasil mas não o entregamos ao argentinos. Agora mesmo tenho em mãos uma carta de um representante das Nações Unidas no Paraguai que outorga salvo condutos para mandar à França uns argentinos perseguidos pela Argentina. Nós os estamos procurando e quando os encontrarmos lhea daremos salvo conduto para que saiam do Paraguai.

-Há também uma denúncia de que a polícia brasileira recentemente entregou alguns paraguaios à policia do Paraguai.

-Expulsou-os por permanência ilegal no Brasil e aqui eles estão livres porque não são políticos.